Ariel, a pequena sereia

Ariel é um desenho da Disney de 1989, e foi baseado no conto de fadas do escritor Hans Christian Andersen.

Ariel é uma sereia que vive no mar juntamente com seu pai: o rei Tritão e suas seis irmãs, sendo ela a caçula. E também a malvada Úrsula. 

O mar é um símbolo do inconsciente coletivo. De onde provêm a vida, mas também a morte.

Ariel é diferente das heroínas clássicas, ela deseja seu amor, o príncipe Eric e, vai atrás dele. Ela até se submete à bruxa Úrsula, que em troca da vida humana lhe pede sua bela voz.

No filme não há uma rainha, mesmo havendo sete princesas, não há uma regente. O rei Tritão reina absoluto. Podemos especular então que a bruxa Úrsula poderia ser a regente que foi esquecida e reprimida. Ela deseja o poder e passa a sua vida querendo ocupar o lugar do rei Tritão, sob a forma de vingança.

Interessante notar que no começo do filme não se houve falar dela, seu nome nem é mencionado. Somente quando Ariel decide ser humana que Úrsula coloca em prática seu plano de vingança. Isso mostra que a bruxa é um arquétipo que foi constelado e emergiu à superfície da consciência. E Ariel como heroína é a responsável por restabelecer o equilíbrio entre o masculino e o feminino na consciência coletiva.

Eric, enquanto príncipe representa a esperança de renovação da consciência. Não ouvimos falar sobre seu pai ou sua mãe e ele tem somente um tutor. Além disso, ele vive com marujos ao mar. Vemos aqui que a atitude da consciência também se encontra sem o elemento feminino, que está no inconsciente – o mar.

Na noite do aniversário do Príncipe Eric, Ariel sobe à superfície e se apaixona por ele. Em uma tempestade que se seguiu, o navio é destruído e Ariel salva Eric. A sereia canta para ele, mas rapidamente o deixa quando ele recupera a consciência para evitar ser descoberta. Fascinado pela voz que ficou em sua cabeça, Eric promete encontrar quem o salvou.

Antes de continuarmos a análise, é importante falar sobre a figura da sereia. As sereias na mitologia grega eram seres extremamente perigosos. Seu canto levava os homens a se afogarem. Elas personificam um aspecto perigoso da anima, a ilusão destruidora. Esse aspecto da anima, representado pela sereia, simboliza um sonho irreal de amor, de felicidade e de calor materno (o ninho) — um sonho que afasta o homem da realidade.

Eric está preso nessa anima negativa e encantadora. Ele não consegue estabelecer uma relação com uma mulher real. Mesmo quando Ariel adquire pernas humanas, ele ainda vive preso ao ideal ilusório de mulher. Ariel dá sua voz a Úrsula, em troca das pernas. Ou seja, para se humanizar ela perde justamente o encanto que leva os homens à destruição. Mas Eric ainda fica preso a essa ilusão representado pela mãe.

Ele não se compromete e não quer crescer. Isso fica evidente no jeito infantil com que brinca com seu cachorro de estimação. Mas para poder amadurecer ele terá que enfrentar os aspectos da mãe terrível, que leva o homem a regredir, que quer ter o filho só para ela. E aqui ela é simbolizada por Úrsula.

Isso nos mostra que somente o amor por uma mulher pode livra o homem do abraço mortal da mãe e levá-lo ao amadurecimento. O herói representado por Eric terá que lutar com ela para que a consciência se liberte da infância e Ariel (seu lado feminino, a anima) possa se humanizar e se desenvolver.

Vários mitos e contos de fadas relatam essa passagem na jornada do herói, onde ele mata o dragão (ou outro animal terrível) e salva a donzela em perigo. Após matar Úrsula, Eric se liberta do caráter regressivo e Ariel também é solta do seu lado masculino (animus) terrível, representado por seu pai. Muitos contos de fadas relatam que a anima possui um guardião com aspecto de um deus terrível e até demoníaco, um “animus da anima” e o herói também precisa superá-lo.

E o filme termina com o casamento e o estabelecimento do equilíbrio masculino e feminino na consciência. O feminino reprimido, por meio de Ariel, obteve seu devido reconhecimento encontrando seu lugar como regente novamente.

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