Máquinas e homens

Antigamente – e nem me refiro a tanto tempo assim – quando queríamos saber de alguém que morava distante, escrevíamos uma carta que seguia o seu destino, e depois de alguns dias recebíamos a resposta também por carta, endereçada somente a nós.

Era um processo demorado, mas chego a sentir saudades de ter  que sair de casa, ir até o correio, dispondo do meu tempo porque  a preocupação e o cuidado de escrever para alguém era o que importava, e nada pagava o preço de abrir um envelope e ver as letras que formavam  palavras. Eram as digitais de alguém muito especial endereçadas somente a mim.

Hoje as cartas que recebo se limitam a anúncios e contas. Hoje, abro janelas de redes sociais.

Tudo muito rápido e fácil, porque o movimento exige que seja assim. Muito prático e vantajoso, não precisamos esperar dias para termos notícias de alguém. Aliás, chega a ser divertido, porque hoje utilizamos dessas ferramentas para conversar com quem está até mesmo no mesmo ambiente. Então, o que foi criado para aproximar, distancia.

Não quero aqui levantar polêmicas, apenas reflexões. A facilidade que esse meio proporciona é algo que não se discute, mas estamos humanamente preparados para ele?

Se analisarmos friamente é algo que assombra, pela grande ilusão em que acreditamos.

Por exemplo, temos um milhão de amigos via “facequalquercoisa”, por dia algumas solicitações de amizade, e assim vamos colecionando “carinhas” que nos dão a sensação de que a solidão passa longe de nossas vidas.

O que dizer então dos grupos? Facilitadores? Com certeza! Pequenas sociedades que entre outras utilidades, criadas para economizarmos nosso tempo, porque vivemos correndo.

É uma crítica? Talvez. Penso que é mais um reconhecimento de uma usuária, e assídua, diga-se de passagem.

Criou-se uma facilidade de não nos comprometermos com nada, em dizermos coisas que não são exatamente a verdade ou então de sairmos falando a torto e a direito, porque é muito mais fácil quando existe um monitor que nos envolve entre quatro paredes, nos protegendo do mundo lá fora. A grande verdade é que ele não nos protege de nada, nossas palavras escritas se refletem e trazem consequências. Estamos mais expostos do que nunca.

Caímos na armadilha de nos colocarmos inteiros, de vida e sentimentos, e confiarmos que o outro, ou os outros vivem a mesma verdade que nós. Colocamos amor onde não existe. Sentimentos não passam através de fibras ou redes, eles tem seu início no olhar. O olhar que está tão pouco valorizado em nossos dias. É muito cômodo encontrar parceiros em sites de relacionamento. Lembram? Não há necessidade de compromisso. Quebrou-se o encanto do encontro.

Outro dia, uma amiga colocou em sua foto de perfil uma lata. Quando a indaguei, me disse que estamos todos enlatados, somos produto exposto para consumo. Uma outra me disse que não vê problemas em manter um relacionamento virtual, ou mesmo ter uma conversa mais quente com um amigo via internet, mesmo sendo casada. “É tudo uma fantasia!”, ela me disse.

Longe de mim fazer aqui um discurso moralista, mesmo porque eu concordo. Sim, é mesmo uma grande fantasia. Que turva o olhar para a nossa realidade. Então, é uma fuga?

Não sei se estamos preparados para lidarmos com fantasias e realidades. Queremos um amor real, uma amizade verdadeira, porque somos humanos, queremos calor!

Ou de tão enraizados na máquina, estamos nos tornando uma?

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