Nas garras da ilusão

“Se você se surpreender dizendo “Acredite em mim, eu sei” ou “Por que você nunca acredita em mim?”, é porque o ego já se pronunciou. ... O eu sente-se inferiorizado ou ofendido porque alguém não acredita no que ele disse”.
(O Despertar de uma Nova Consciência - Eckhart Tolle - Editora Sextante)

Muitos consulentes chegam a uma consulta ao tarô muito iludidos com algumas situações. E quando o tarô dá as informações que contrariam suas falsas perspectivas, ficam bastante decepcionados.

Uma situação muito comum é a da pessoa que chega falando que ama outra. O que é o amor? Qualquer paixão, qualquer afinidade, qualquer desejo sexual, hoje, é chamado de amor. Basta que troquem um beijo e o casal já está dizendo que se ama; o casal não, a mulher; os homens são mais reservados em afirmar seus sentimentos. Mas o fato é que a maioria confunde o amor.

A consulente-paciente que saber se sua ex-secretária quer prejudicá-la. O tarô mostra que a pessoa ficou magoada com a demissão, mas que não tem vontade de prejudicar, de vingar. A consulente tinha a ilusão de ser amada/admirada pela secretária. Quando a demitiu, ouviu cobras e lagartos, palavras ferinas que contrariaram profundamente sua ilusão. Reclamou que o tarô não mostrou a vontade de a ex-secretária se vingar, mas o oráculo não viu essa vontade.

Na cabeça da consulente, todos os impropérios ouvidos pela ex-secretária foram suficientes para ela criar a ilusão de que seria prejudicada. Ainda que tenha havido uma ameaça feita na hora da raiva (a secretária deve ter recebido a demissão como uma notícia muito ruim, que a fez reagir de forma idêntica), uma ameaça verbal não é um fato. E os fatos contrariam a ilusão.

A consulente-paciente chega inconformada com o namorado que não se separa da esposa. Eles vivem relativamente felizes e ele nunca prometeu separar-se. A consulente criou a ilusão de que ele se separará e agora sofre porque a realidade a decepciona, contrariando sua ilusão.

A ilusão é um processo egóico em que acreditamos que o que queremos é sempre o melhor para nós e para os outros, independente de estes concordarem conosco. A ilusão vem da pretensão que temos de conhecer a verdade absoluta, e não há verdade absoluta. A ilusão vem da presunção que sabemos tudo e não sabemos muita coisa. Vem da arrogância em acreditarmos que somos melhor que o outro, portanto, sabemos mais do que ele. Vem da prepotência em acreditarmos que somos superiores ao outro e não somos superiores a ninguém. Somos todos humanos em busca de aprender e evoluir. A ilusão vem do apego quando acreditamos que sem algo ou alguém seremos infelizes.

É uma ilusão acreditar que só será feliz com algo que se quer ou com alguém que se deseja, porque a felicidade não é uma ilusão, é uma realidade que deve nascer dentro de nós e não vir de algo ou de alguém. Podemos compartilhar a felicidade com a outra pessoa. Vivemos alegres e contentes por causa de coisas e pessoas, mas só podemos estar e ser felizes conosco. A ilusão em acreditar que outra pessoa nos fará feliz é o drama da maioria das pessoas que sofrem por amor.

E o amor é tudo. Ninguém pode sofrer quando tem tudo. Sofremos porque queremos que nosso par faça/seja do nosso jeito. Sofremos porque queremos que a pessoa decida segundo os nossos conceitos e visão de mundo. Sofremos porque acreditamos em promessas não feitas, em estímulos vindos de todos os lados, esquecidos de que o estímulo único e verdadeiro é o que vem de dentro de nós, mas aquele que não é contaminado pelo ego.

Eu amo você do jeito que é. Será? Pense se está feliz com algo e com alguém. Pergunte porque não está feliz. Se o outro não atende às suas perspectivas, lembre-se que não é dono dele. E que ele, como você, tem direito de ser como quer.

Vamos sair das garras da ilusão? Não é fácil, mas é possível. Basta adentrarmos o extenso campo de nosso eu e ir perguntando com franqueza, porque o outro tem que fazer o que é nosso dever. Ame-se, conheça-se. Assim facilitará a desconstrução de suas ilusões.

Vamos lá! Nós podemos.

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