A incerteza: a grande diversão da humanidade

Por Gustavo Toro

Amigo,

Imagine um mundo certo, 100% correto, preciso e previsível como o mexer dos ponteiros do relógio. 

Imagine sua vida certa e previsível por análise, desde o nascimento até a morte. A possibilidade de saber e ter ciência de todas as pessoas, situações, coisas boas e ruins que irá viver; assim como o momento e forma exata de sua morte. Saber as traições, as paixões e términos de relacionamentos desde sempre, desde o nascimento. Um mundo certo como o relógio e previsível como uma fórmula matemática.

Neste mundo não teríamos crianças pois todos nasceriam adultos, todos já saberiam exatamente quem são, quem foram e quem serão. Não haveria emoção e nem motivo para chorar ou comemorar, pois tudo já era ciente.

Neste mundo e realidade, se vivessem humanos nele, não tenho dúvida nenhuma que o número de suicídios seria extremo e, o número de alegrias minúsculo em relação a paranoia geral da população. A aceitação tanto pregada hoje seria substituída por uma revolta necessária a uma forma de realidade fria e desumana.

Ouço muito sobre certeza, pulso, ter determinação e magnetismo, porém o que dá a graça da vida é nunca sabermos com 100% de certeza o que acontecerá no próximo suspiro. O êxtase da vidência, previsão e o afã de ter confirmado a sua intuição ou impressão sobre como se desenrolaria determinados acontecimentos é o que dá o ar da graça, da mágica à vida de quem é normalmente humano.

Einstein ao se deparar com a teoria da indeterminação quântica criou a famosa frase: “Deus não joga dados”. Porém eu humildemente discordo dele, a fonte criadora da vida com certeza tem um prazer imenso e alegria em apostar, apostar na possibilidade ínfima da mudança quântica do ser humano. E habilitando isso em sua própria criação da vazão a misericórdia e ao alívio pelo próprio livre arbítrio da morte certa, da falência certa, da morte emocional da pulsão de amor do ser humano. Sem é claro, essa mesma fonte ser a observação e sagacidade por essência.

Prefiro acreditar que essa fonte criou suas leis que estabilizam o universo simplesmente determinando que nada morra, nada deixe de existir e que sempre haja a opção pelo livre arbítrio à mudança. Creio que ela joga dados e não sabe o futuro, porém através de sua lei natural o único futuro possível é aquele dentro do amor, dentro da própria fonte, da própria vida.
Esse único futuro possível ou certeza seriam a garantia que jogando os dados e sem controlar as criaturas, aquilo que aconteça permaneça na eternidade, multiplicando e preservando a vida, jorrando amor e justiça.

Creio que a certeza absoluta geraria o tédio como nostalgia e êxtase divino, o tédio seria a emoção ou potencialidade a ser alcançada, a frieza de uma realidade mecânica. Por isso, por mais que saibamos o futuro, por mais que a clarividência exista, tudo muda e tudo é incerto, pois essa incerteza é exatamente o que possibilita na perfeição do tempo a dissolução inexplicável de uma morte espiritual ou futuro trágico certo; e também o que dá o magnetismo necessário na própria pulsão sexual, ou de êxtase para a multiplicação da vida no ser humano.

Creio que a única certeza possível é que é impossível estar fora do amor. O amor é a origem, não se pode por lógica simples imaginar algo fora de seu princípio, a polaridade da essência é a adulteração máxima da essência e não a sua inexistência.

Pense, alguém que nunca em sua vida espiritual tivesse conhecido a cor amarela, poderia descrevê-la, sabê-la e mostrá-la com perfeição? Ora, o amarelo existindo, essa pessoa com certeza poderia supô-lo, porém nunca materializá-lo, seria preciso para isso que ela realmente o tivesse encontrado e o conhecesse.

Por isso os espiritualistas dizem que só enxergamos o que está em nós. Eu mudaria essa frase para: Nós enxergamos tudo, pois somos tudo, porém só tomamos consciência e manifestamos aquilo que nos é familiar.

Pense antes de afirmar suas certezas, que muitas vezes vale mais procurar ser feliz e sentir o que seu coração pede do que realmente seguir um ideal de certeza absoluta. A felicidade interior na paz de espírito pode ser a única medida real de estar essencial. A certeza pode ser a única via de ser irracional, ser ignorante ou ignorar a inteligência de seu próprio coração!

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