Coisa de Fã

Escutar a música certa no momento certo. Aí está o segredo para se inspirar e começar a escrever sobre tudo ou sobre nada. Mas escrever, contar em palavras o seu pensamento, o seu coração, o seu eu, o seu verdadeiro eu. Preciso ouvir Nando Reis para escrever sobre ele, isso é óbvio. Mas não pode ser qualquer música, talvez eu precise ouvir a que eu mais gosto. Youtube gigante na tela do computador da faculdade, que por sinal, conta com um teclado ruim, muito ruim que come as letras digitadas e tenta comer junto o meu raciocínio. Não funciona! Preciso ouvir outra música dele, mas qual? Abro uma playlist do Ruivão e dou de cara com uma música favorita que ele nunca toca nos shows: Dessa Vez. Por que, hein? É uma das mais lindas e que faz eu e a dona Isabella vibrarmos de alegria, de euforia! Pronto, achei a música que vai embalar as próximas linhas...

Escutar Nando Reis é algo que mexe com todos os meus sentidos. Posso estar num dia ruim, posso estar brava, ou simplesmente de bem com a vida, com os passarinhos que insistem em cantar na minha janela todas as manhãs. Ou fico bem, ou fico melhor ainda! Mesmo sem saber, ele tem uma forte influência sobre mais uma pessoa no mundo.

A primeira vez que ouvi as músicas dele, confesso que não mexeram nenhum tiquinho comigo. E logo de cara, fui convidada para ir num show dele! “Ó, céus... Gastar dinheiro num show que nem conheço a pessoa, que não sei cantar nenhum refrão? Que desperdício!” Fiz de tudo para não ir. Inventei desculpas “minha religião não permite, não tenho dinheiro, não sei cantar as músicas, o mundo vai acabar e eu vou para o inferno...” Lembrando disso hoje, eu caio na gargalhada. Como somos ingênuos!

Enfim, de nada adiantaram as minhas desculpas esfarrapadas e ridículas. A Isabella chegou com os ingressos na mão: “Um é meu e o outro, seu! Presente! Vamos com o tio Zé e a Bel. E não adianta! Você vai me agradecer um dia por isso!”

O que fazer diante de uma situação dessas? Chorar? Resmungar? Ficar sem palavras até para o “sim”? O jeito foi ir nesse maldito show... Meados de 2009. Passamos os dias seguintes cantando Nando Reis no trabalho, em casa, dormindo. Eu precisava aprender pelo menos uma letra inteira, né?! Era questão de honra.

O dia chegou, nem demorou muito. Talvez uns cinco, no máximo. Nos arrumamos. A Isa naquela expectativa louca de primeiro show e eu, bem... Eu tentando entrar no clima dela. Precisava deixá-la feliz, afinal ela tinha gasto dinheiro com os dois ingressos. Era o mínimo que eu podia fazer... Ou não!

Entramos no carro. Conversa vai, conversa vem, o tio Zé pergunta se eu curtia Nando Reis tanto assim. “Ah, é legalzinho até...” Pra quê falei isso? Por que nesse tom de desdém? A Isa me olhou com uma cara que eu senti a morte pelo olhar dela! Foi doído! Chegamos ao Citibank Hall. “Pelo menos, vou ficar sentada”, foi a primeira coisa que consegui pensar. Uma banda abriu o show. Eles eram legaizinhos até... Dessa vez, de verdade!

Um cara ruivo, com a barba por fazer entra no palco e começa a tocar. Depois da primeira música, interage com o público. Conversa, agradece e convida para um show que duraria mais de duas horas. (Que saudade desse show!) Entre as músicas, algum comentário dele, algum comentário brisado dele! E como ríamos dos pensamentos, da filosofia de vida dele. Não era tiração de sarro, não! O cara é um gênio, brisa porque sabe ser gênio! Me apaixonei na primeira brisa! Me apaixonei ao ouvir a vozinha rouca e fina dele, ali, ao vivo. O jeito desengonçado de dançar. O jeito gostoso de brincar com o violão, com as letras das canções. Me vi tentando cantarolar os refrões que tentei decorar uns dias antes. A Isa gritava, cantava todas e a alegria dela, aos poucos, me contagiava. Estávamos sentados, mas a vontade era de empurrar as cadeiras pro lado e ficar de pé, pulando, pulando, pulando! O tio Zé olhava: “Isa, pelo amor de Deus, para de gritar! A moça da frente vai te dar um soco já já...”

A última música foi Do Seu Lado que o Jota Quest gravou. Essa eu sabia inteira! Nessa hora, todos empurraram as cadeiras, ficaram em pé e começaram a gritar a letra. A energia era inexplicável. A onda de alegria, de satisfação era geral! Quando ele se despediu do público, eu e a Isa nos olhamos e naquele instante, sabíamos que aquele tinha sido só o primeiro show. Sabíamos que aquele ruivinho, com seus quase 50 anos seria a trilha sonora da nossa amizade...

Desde então, todos os show que ele faz aqui em São Paulo, lá vamos nós duas. Fiz amizade com os presidentes do fã clube, uma vez ou outra, consigo ingressos na faixa. E nem penso em quem chamar. É a Isa. Só a Isa! As pessoas escutam Nando Reis e se lembram da gente, algumas perguntam pra que ir tanto ao show de um mesmo cara? Na época em que ele lançou o Bailão do Ruivão, fomos a dois ou três shows da turnê. As mesmas músicas, os mesmo músicos, o mesmo Nando Reis... Mas a energia era uma diferente da outra. A alegria de estar ali pertinho, olhando pra ele e ouvindo suas canções são únicas. Coisa de fã mesmo... E o mais bacana dessa “relação Nando Reis” é que a nossa amizade, a minha e a da Isa, é cada dia mais forte. Cada dia mais sólida. Única também, assim como as apresentações... Não preciso nem contar qual é o nosso sonho, né? Claro que é tirar uma foto com o cara laranja que embala a nossa amizade com suas canções românticas, suas dancinhas engraçadas e suas brisas adoráveis. Aliás, que tudo isso permaneça sempre assim: do mesmo jeito, mas ao mesmo tempo, diferente. Os shows, a amizade, o carinho, a emoção, o amor... O amor que dividimos desde o primeiro show!

E para finalizar, como diz o senhor Nando Reis:

É bom olhar pra trás E admirar a vida que soubemos fazer É bom olhar pra frente É bom, nunca é igual Olhar, beijar e ouvir cantar um novo dia nascendo É bom e é tão diferente...

Olhar pra trás para admirar os dias já vividos, lembrar de cada um deles com alegria e gratidão; olhar pra frente e ver o novo, o diferente que podemos fazer, apesar de estarmos presos na rotina, mascarados pelo dia a dia... E viver! Viver todos os dias com o que gostamos, acreditamos e sonhamos... Ah, não posso deixar de agradecer a chata da Isa pela insistência naquele ano de 2009... Valeu a pena! E continua valendo...

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