Quando me amei de verdade

Eu sempre achei o tema “autoestima” complicado. Eu não sabia direito o que diabos isso queria dizer. Eu li muitos livros, assisti vídeos no YouTube, fui em palestras de bons profissionais e repeti isso, à exaustão, em cada uma das minhas sessões, mas sinceramente, eu não sentia.

Achava que ter autoestima era fazer as unhas ou manter as raízes pintadas. É, é isso também, mas não é isso. Achei que era não mandar uma mensagem fofa depois de uma noite maravilhosa com o namorado para não parecer carente. Achei que era andar na moda, querer o último sapato lançado pela mídia. Achei um monte de coisas...

Meu problema com a palavra era o meu corpo, eu não gostava mesmo dele. Achava que gostava. Escrevi sobre isso. Várias vezes. Eu sabia o que era, o conceito e tentava, a todo custo, enfiar isso na minha cabeça. Mas na minha cabeça já estava, faltava entrar no coração.

Até um dia em que me vi em um workshop de mulheres lindas e gordas, como eu. Como assim? Pensei. Passei os últimos 20 anos tentando emagrecer. Fiz essa promessa em absolutamente todos os réveillons, desde os meus 11 anos de idade. Fiz cirurgia bariátrica espiritual, passes, macumba, simpatias. Usava roupas largas para não marcar, coisas para que não aparecessem as celulites das coxas. Pensava nisso todos os dias, em cada refeição que eu fizesse. Me sentia bem só quando decidia fazer dieta e, aí sim, sentia que eu estava fazendo alguma coisa.

Emagreci e engordei dezenas de vezes. Mas nunca senti que não, não tinha nada de errado comigo. Dei voltas e mais voltas em torno de mim mesma, como um cachorro que marca o território para se deitar, mas não tocava nisso.

Nesse workshop fui chamada de linda, maravilhosa. Fiz fotos ousadas, como nunca tinha conseguido fazer. Escutei elogios e vi gordas, como eu, amando os seus corpos do jeitinho que eles são. E, pela primeira vez na minha vida, percebi que eu precisava, de verdade, me responsabilizar por mim mesma e amar aquilo que já existia e não um padrão que eu persegui como louca por anos.

Eu parei! Parei de achar que amanhã estaria mais magra. Parei de me achar um erro ambulante. Fiz carão para a câmera, deixei sair a minha autoconfiança e encontrei a beleza em mim. A beleza fora do padrão. A beleza de formas grandes, desproporcionais para os estilistas de plantão. A forma que o meu corpo encontrou para me fazer atravessar a vida.

Simplesmente eu era eu. Pela primeira vez na vida eu tive essa sensação de total pertencimento. Eu era minha e ninguém poderia tascar. Eu estava feliz de uma maneira que nunca tinha estado. Não, meu corpo não é mais um problema. Meu corpo é meu templo, minha solução, minha saudação ao mundo. Meu corpo é meu outdoor para tudo de bom que meu coração carrega. Ele me nutre, me deixa caminhar, me deixa dançar. Meu corpo me ama e eu o amo de volta. O amor passou a ser recíproco.

E desde então, tudo mudou. Tudo mesmo. As pessoas que atraio para encontros e o trabalho. Retomei um projeto antigo do meu blog (andreapavlo.com) e passei a usar essa minha descoberta para empoderar. Escrever sobre autoestima, sobre moda plus size e beleza está me fazendo ser eu mesma 24 horas por dia. E isso, sinceramente, não tem preço.

Então, eu entendi: autoestima é se amar. Mas se amar como amamos aquele filho que dá problemas na escola. Como amamos aquele pai ausente ou aquele namorado que não nos trata da melhor maneira do mundo. Amar, apesar de tudo, incondicionalmente. Amar porque ama. 

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